O agronegócio de Mato Grosso do Sul vive um momento de expansão e ao mesmo tempo de necessidade de adaptação tecnológica. De janeiro a agosto de 2025, o estado registrou exportações de US$ 7,24 bilhões, resultado 3,26% superior ao mesmo período do ano anterior.
Com superávit comercial de US$ 5,53 bilhões, os embarques foram impulsionados principalmente por celulose, soja e carne bovina fresca, cujo crescimento de quase 44% chamou atenção no cenário nacional. Em paralelo aos números expressivos, cresce o debate sobre como novas ferramentas digitais, como blockchain e moedas digitais do Banco Central, podem transformar operações comerciais e proteger margens diante de tarifas mais rígidas impostas pelos Estados Unidos.
O interesse pelo uso de plataformas descentralizadas para registrar contratos e pagamentos tem avançado em diversos segmentos. No caso do agro sul-mato-grossense, a possibilidade de realizar liquidações diretas em Drex ou em tokens indexados ao dólar poderia reduzir custos bancários e acelerar o fechamento de contratos.
Em um mercado cada vez mais sensível a prazos, produtores e tradings começam a discutir com consultores financeiros como sistemas de liquidação digital e até mesmo iniciativas de novas cripto podem aumentar a eficiência de verificação de transações, além de trazer rastreabilidade e segurança adicional para parceiros internacionais. Ao mesmo tempo, a tokenização desses ativos abre caminhos para emissores menores explorarem mercados até então restritos.
Ao registrar cada etapa da cadeia produtiva em blockchain, desde o plantio até o embarque, empresas conquistam maior transparência diante de compradores no exterior. Essa rastreabilidade atende exigências de consumidores e governos preocupados com padrões ambientais e trabalhistas, que passaram a ser decisivos em negociações recentes.
Para frigoríficos e fabricantes de celulose, a possibilidade de demonstrar a origem da matéria-prima em um registro imutável é um diferencial competitivo. A confiança criada por esse histórico digital reduz incertezas e pode diminuir exigências de garantias financeiras, tornando cada operação menos onerosa. Em tempos de maior vigilância regulatória, essa comprovação digital tende a ser fator de negociação mais importante do que apenas preços.
As medidas recentes dos Estados Unidos, que elevaram barreiras para determinadas importações, pressionaram exportadores a buscar alternativas. A diversificação de destinos ganhou força, mas a tokenização pode atuar paralelamente para tornar essas transações mais rápidas e seguras em mercados menos tradicionais.
Quando um comprador no Oriente Médio ou na Ásia exige prazos de pagamento curtos, possuir um contrato tokenizado apoiado em ativos digitais reconhecidos pode facilitar acordos e reduzir riscos de inadimplência percebidos. O efeito combinado de tarifas mais elevadas e custos regulatórios crescentes reforça a relevância de tecnologias que tornem o processo comercial mais ágil e menos dependente de intermediários bancários tradicionais.
O Drex, projeto do Banco Central brasileiro, surge como alternativa estruturada para dar lastro oficial às operações digitais. Com ele, exportadores poderiam receber em moeda equiparada ao real digital, porém com possibilidade de conversão facilitada em outras divisas. Essa característica atenderia uma demanda secundária do agro: reduzir perdas cambiais em transações longas. Empresas locais, ao negociar milho ou carne fresca, enfrentam volatilidade cambial entre assinatura e embarque.
A conversão via Drex, em um ambiente de contrato inteligente, poderia fixar valores de forma mais estável. Tal arquitetura contribuiria ainda para maior adesão de instituições financeiras, que veriam na infraestrutura regulada a segurança que muitas vezes falta em plataformas independentes.
Um dos pontos destacados por analistas é a capacidade da tokenização de movimentar capital de forma fracionada. Em vez de contratos milionários restritos a trading companies, pequenos investidores poderiam adquirir frações de tokens lastreados em soja ou carne bovina.
Isso amplia o acesso ao financiamento rural, permitindo que produtores menores capturem valores antecipados com base em futuras entregas. Na prática, o setor abre portas para que recursos de investidores globais alimentem operações locais sem as demoras de linhas de crédito convencionais. Além disso, a visibilidade digital desses ativos tende a atrair parceiros de países menos acessíveis por vias tradicionais, criando corredores comerciais até então pouco explorados pelo estado.
Apesar das perspectivas, barreiras significativas ainda precisam ser superadas. Do ponto de vista regulatório, há necessidade de clareza sobre como contratos em blockchain seriam equiparados aos modelos tradicionais nos trâmites aduaneiros e alfandegários. Sem normas definidas, exportadores temem enfrentar custos extras decorrentes de interpretações divergentes. Além disso, persiste uma resistência cultural entre parte dos produtores, que ainda veem moedas digitais com desconfiança.
Essa visão, muitas vezes ancorada em experiências negativas com volatilidade de ativos digitais, exige trabalho educacional por parte de federações do setor e órgãos financeiros. A velocidade da transformação digital dependerá, portanto, não apenas de soluções técnicas, mas de confiança institucional consolidada.
O desempenho econômico recente do estado evidencia a centralidade do agronegócio para a geração de divisas. Com a carne bovina fresca registrando crescimento expressivo nas exportações, há espaço para investimentos em soluções digitais que consolidem esse avanço no longo prazo. A integração entre tecnologia e produção tende a ser decisiva para enfrentar novas condições comerciais globais, especialmente sob ambiente externo mais protecionista.
A combinação de Drex, tokenização e rastreabilidade cria uma arquitetura capaz de reduzir riscos, ampliar margens e assegurar mercados de maior valor agregado. Se bem administrada, a fase de modernização pode colocar Mato Grosso do Sul em posição de vanguarda no uso de blockchain no agro, servindo de referência para outras regiões do Brasil.