Achado arqueológico sem precedentes revela detalhes da tributação, logística e tecnologia naval da dinastia Joseon, além de apontar para o naufrágio mais antigo já identificado na Coreia.
Arqueólogos sul-coreanos concluíram a retirada completa de um navio de carga do século XV — incluindo toda a sua carga preservada — em uma das descobertas marítimas mais importantes do país. A recuperação do Mado 4, após quase dez anos de pesquisas e conservação no fundo do mar, foi anunciada nesta segunda-feira (17) pelo Instituto Nacional de Pesquisa e Patrimônio Marítimo, vinculado à Administração do Patrimônio Cultural da Coreia do Sul.
As informações são do The Korea Herald e do UOL.
O navio, localizado em 2015 na costa de Taean, na província de Chungcheong do Sul, permaneceu submerso enquanto especialistas removiam mais de 120 artefatos. Entre eles estavam etiquetas de madeira que indicavam destinos, recipientes de arroz e porcelanas produzidas como tributo governamental — peças essenciais para compreender como funcionava a estrutura tributária do país durante a dinastia Joseon (1392–1910), a mais longa da história coreana.
Segundo os pesquisadores, o Mado 4 é o único navio da era Joseon completamente escavado e recuperado até hoje. O estudo confirma que a embarcação integrava o sistema estatal de transporte “joun”, responsável por levar grãos e mercadorias oficiais dos depósitos regionais até a capital Hayang, atual Seul.
Acredita-se que o navio tenha naufragado por volta de 1420, enquanto navegava de Naju — importante centro de coleta de grãos — por uma rota conhecida pelas correntes perigosas e passagens rochosas. As condições da região, que possivelmente causaram o acidente, também ajudaram a preservar a embarcação sob camadas de areia e lodo.
O estudo da estrutura revelou detalhes inéditos da engenharia naval da época. Diferentemente dos navios mais antigos, que utilizavam um único mastro, o Mado 4 contava com dois, revelando preocupação com velocidade e capacidade de manobra. Também foi identificado o uso de pregos de ferro em reparos — a primeira evidência de fixadores metálicos em embarcações tradicionais coreanas, antes consideradas inteiramente montadas com encaixes de madeira.
Enquanto o navio passa por um processo de dessalinização e conservação, parte dos artefatos já está em exibição ao público.
A recuperação do Mado 4 coincidiu com outra descoberta relevante: um segundo naufrágio, identificado por sonar e mergulho, contendo cerâmicas celadon datadas entre 1150 e 1175. Se confirmado, será o naufrágio mais antigo já encontrado na Coreia, antecedendo o Mado 4 em mais de dois séculos.
Desde que pescadores descobriram acidentalmente o naufrágio Mado 1 em 2007, a costa de Taean se transformou em uma das áreas arqueológicas subaquáticas mais ricas do Leste Asiático. Já são mais de uma dezena de embarcações localizadas, revelando um corredor marítimo que, ao longo dos séculos, sustentou a economia estatal, o transporte de tributos e a circulação de mercadorias internas.