Professora Luana Rossato recebe R$ 50 mil para estudo sobre resistência antifúngica ligada ao Pantanal
A professora Luana Rossato, integrante da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), está entre as oito cientistas brasileiras selecionadas para a edição 2025 do prêmio Para Mulheres na Ciência, iniciativa do Grupo L’Oréal no Brasil em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a UNESCO no Brasil. Cada pesquisadora contemplada recebeu uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil, destinada a impulsionar projetos científicos desenvolvidos no país e fortalecer a participação feminina em áreas de pesquisa.
A cerimônia ocorreu em 4 de dezembro, no Palácio da Cidade, no Rio de Janeiro, em evento de caráter fechado e institucional. O programa integra uma mobilização internacional que, a cada ano, apoia mais de 350 pesquisadoras em 110 países, reforçando a importância de garantir visibilidade, recursos e diversidade na ciência mundial.
Rossato foi reconhecida na categoria Ciências da Vida, uma das mais concorridas da premiação. Seu projeto analisa a relação entre impactos ambientais no Pantanal — como o uso de agrotóxicos e queimadas — e o surgimento de fungos resistentes a antifúngicos, capazes de provocar infecções graves em seres humanos. Sua produção científica já a levou a integrar, de forma permanente, a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Para a pesquisadora, o reconhecimento simboliza estímulo e visibilidade à trajetória construída.
“Este prêmio representa a validação de um percurso feito com dedicação e persistência. Fazer ciência no Brasil exige resiliência, especialmente quando se trata de mulheres pesquisadoras. Ver esse trabalho reconhecido amplia oportunidades, fortalece parcerias e ajuda a romper barreiras históricas”, destacou.
A pesquisa vai investigar microrganismos coletados em solo, água e vegetação sob diferentes níveis de contaminação. Com o sequenciamento genético, a equipe pretende identificar genes relacionados à resistência a medicamentos e maior capacidade de causar doenças. Os resultados podem subsidiar estratégias de vigilância sanitária e prevenção em comunidades rurais e indígenas, reforçando a visão integrada entre saúde humana, animal e ambiental.
Segundo Rossato, o Pantanal, por décadas exposto a pressões climáticas e químicas, oferece condições singulares para compreender como microrganismos se adaptam. Ela cita que agrotóxicos podem exercer pressão seletiva sobre espécies fúngicas, favorecendo mutações que tornam alguns deles resistentes — como já observado em Aspergillus fumigatus, resistente a medicamentos azólicos.
A pesquisadora lembra que a resistência antifúngica é considerada pela Organização Mundial da Saúde um risco crescente à saúde pública global. “Analisar esse fenômeno em um bioma tão vulnerável quanto o Pantanal é essencial para antecipar ameaças, orientar políticas públicas e fortalecer ações de vigilância sob a perspectiva de ‘Uma Só Saúde’”, afirmou.
O projeto encontra-se em fase preparatória, com definição das áreas de coleta, organização das equipes de campo e padronização dos procedimentos laboratoriais. De acordo com Rossato, o recurso financeiro recebido será crucial para acelerar o início das atividades.
“Estamos estruturando a etapa inicial da pesquisa, que envolve logística de expedições e montagem da infraestrutura laboratorial. Essa bolsa vai agilizar o processo e garantir a construção da base microbiológica necessária para o estudo”, completou.