Falta d’água afeta mais de 18 mil indígenas e queda de caixa d’água expõe fragilidade estrutural; comunidade promete cobrar presença do ministro da Saúde
O capitão da Aldeia Jaguapiru, Ramão Fernandes, esteve na tarde desta sexta-feira (1º) na sede do Ministério Público Federal (MPF) em Dourados para denunciar o descaso com as obras de poços artesianos prometidos às comunidades indígenas da região. Segundo ele, a crise hídrica segue sem solução, mesmo após os compromissos assumidos pelos governos federal e estadual no final do ano passado, quando moradores bloquearam a MS-156 em protesto.
Na denúncia, Ramão relatou o abandono de obras, falhas estruturais e a falta de compromisso de empresas contratadas para perfurar e manter os poços. “Além desse poço que caiu [em junho], tem outro em construção que preocupa pela má estrutura. E um terceiro, que chegou a 294 metros de profundidade, teve desmoronamento e a empresa abandonou os trabalhos”, afirmou o capitão, após ser recebido por membros da equipe do procurador de Justiça Marco Antônio Delfino de Almeida.
No final de junho ocorreu o desabamento de uma caixa d’água de 30 mil litros na Aldeia Jaguapiru. A estrutura havia sido concluída em abril com recursos da Secretaria de Estado da Cidadania (SEC) e estava em operação após os testes de vazão. A suspeita é de que infiltrações comprometeram a base.
Na época, a SEC informou ter mobilizado uma equipe técnica para apurar o caso, mas até o momento nenhuma ação concreta foi tomada para reconstruir a estrutura, segundo o líder da comunidade.
As aldeias Jaguapiru e Bororó formam a maior reserva indígena urbana do Brasil, com mais de 18 mil habitantes, número superior ao de 43 municípios de Mato Grosso do Sul. Apesar disso, as comunidades não possuem rede de abastecimento de água encanada.
As poucas caixas d’água existentes atendem apenas uma parcela dos moradores e enfrentam falhas recorrentes nas bombas dos poços. Muitas famílias recorrem à escavação manual de poços, que secam rapidamente, ou buscam água em córregos, disputando com animais. A situação é considerada crítica e vem se arrastando há décadas.
Cansado das promessas não cumpridas, Ramão Fernandes afirmou que aproveitará a visita do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, marcada para o dia 9 de agosto, quando será inaugurada a base do Samu Indígena em Dourados, para cobrar providências diretamente.
“A comunidade não aguenta mais. As promessas são muitas, mas os compromissos são poucos. Precisamos de ações concretas para resolver essa situação que já se arrasta há tempo demais”, finalizou o capitão.
A comunidade indígena segue mobilizada e alerta para novos protestos caso não haja resposta efetiva das autoridades nas próximas semanas.